Tive um periquito australiano, desses que nascem em cativeiro. Mas o meu foi criado solto até perceber para que serve um par de asas. Logo nos primeiros vôos ganhou o mundo para se juntar a outros passarinhos.
Dizem que periquitos não falam, como os papagaios. Pois o meu, além de falante, era de uma sabedoria e tanto. Em várias situações soprou-me, em tom suave e baixinho, coisas de arrepiar, verdades incontestáveis que até hoje ecoam em meus ouvidos. Com ele aprendi, por exemplo, que no reino animal os seres geralmente são bem parecidos: têm corpo, com entranhas e membros, e uma cabeça, com olhos, ouvidos, boca e miolos.
Nesse sentido, bicho e gente se parecem mesmo. Mas a vida do bicho-gente não combina em nada com a do bicho-bicho. Bichos não contam (acho que nao contam) intervalos do tempo, nem dias e semanas e meses e anos, nem interfere de forma brutal na natureza. Já o bicho-gente, que se julga racional e senhor de tudo, vive na maior correria. E como perpetua a idéia de que é preciso batalhar feito máquina pela sobrevivência, custe o que custar, se avolumando cada vez mais em manadas neste sentido, principalmente nas grandes cidades.
De fato. Gente se amontoa diariamente como gado nas ruas, escancarando tristeza crônica e indiferença, sobretudo nos períodos em que se locomove entre casa e trabalho. Cada um com seu fardo de interesses e ressentimentos, agindo com uma gana astuta que é de fazer dó, preso a um sistema que aliena e escraviza.
Meu periquito sempre achou a vida urbana artificial e caótica, alimentada pela hipocrisia de uma lógica consumista que não dá pra aceitar como coerente. E ficava fulo de ver como, na contramão desse pensamento, cada vez mais pessoas se tornam urbanas e materialistas. Com toda razão, ele não se cansava de me dizer que o bicho-gente ainda vai se dar muito mal por conta disso.
SEARA LÚDICA é um projeto de circulação nacional com literatura, fotografia, artesanato e música
O "santo" da foto sou eu num arremedo de auto-retrato.
Mas isto é outro papo...
Aqui, fotos de elementos naturais inspiram textos curtos em verso e prosa numa linguagem simples, popular, humorada, sonora, visual.
A proposta é fazer rir e refletir, despertar a sensibilidade do olhar humano para as possibilidades de interação com a natureza, até mesmo nos cenários urbanos.
às vezes
passo apressado;
mas por onde ando
reparo
converso com seres,
plantas e bichos.
invento e até aumento,
mas não escondo nada.
DUVIDEM DO PAPAGAIO!!!
- Curupaco! Como aprendiz de matuto e fotógrafo amador, o Antonio Rezende até que demonstra ser um cara sensível, criativo e tal. Mas eu é que não engulo este papo de que ele bate papo com seres, plantas e bichos. Imagina! Pedir "dá o pé" pra borboleta, achar que coruja é "meu louro", pagar mico tirando prosa com mico, entre outras "nove horas". Ora. Francamente! É o fim da picada! Curupaco! Não creiam no que ele diz sobre o que dizem os bichos. É tudo lorota, conversa fiada. Bichos não falam! Pelo menos como eu. Curupaco?!
ACERTO DE CONTAS / poemas
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"O que sustenta a voz firme e hoje calejada de Rezende é a consciência da grandeza da poesia. E da grandeza do gesto de abraçá-la, para o prazer e para a dor". (Fernando Abreu)
"Se existe uma palavra que possa definir o poeta Rezende, essa palavra é intensidade. Sanguineo, anatomia louca, todo coração."
(Zeca Baleiro)
VÁ MAS VOLTE!
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